Aventura no trem
Ninguém veio me receber, apesar de eu ter avisado alguns amigos por email. Ótimo, pensei, atravessando o saguão de desembarque. Na mesma noite, tomava umas num barzinho da riachuelo. Não era carnaval mas tinha muita gente fantasiada circulando na lapa, por causa de duas ou três festas à fantasia nas redondezas. Um grupo parou junto ao balcão, duas garotas e três caras. Uma delas vestia trajes sumários e um chapeuzinho de enfermeira. Ficou me olhando não sei porque. Os caras que estavam com ela não pareciam se importar com o flerte da amiga. Botei a mão no peito e simulei um enfarte. Ai, estou morrendo, pode me ajudar? Ela riu e eu perguntei se não queria a companhia de um árabe. Que árabe? Eu mesmo. Tirei a camisa e amarrei-a na cabeça, à guisa de turbante. Ela riu novamente e seguimos para a festa. Paguei caipirinhas, bebi outras, nos beijamos, os amigos dela desapareceram. Levei-a para um motel na glória e fizemos amor por algumas horas antes de adormecermos.
Quando acordei não me lembrava direito onde estava. A enfermeira havia sumido. Corri para checar minha carteira, mas não fora roubado. O celular tocou. E aí, maninho, vamos desenrolar? Era Pablo, com quem eu havia trocado emails antes de voltar ao Brasil. Encontrei-o na entrada do museu da república, pegamos um táxi para ramos. Ele havia marcado um encontro com um dos chefes do complexo do alemão. Levei o dinheiro e compramos vinte quilos de cocaína. Da pura, não a merda misturada que se vende nas bocas. Eu e Pablo entramos novamente num taxi. Hospedamo-nos numa pensão próxima à rodoviária. Experimentamos um pouco do produto. Pablo ficou com cinco quilos, que iria vender para seus conhecidos da zona sul. Reservamos cem gramas para consumo pessoal nos próximos dias e o resto dei um jeito de malocar nos dois laptops que eu trouxera da europa.
À noite fui à uma festinha de uma amiga de Pablo, em Copacabana. A mina era gostosa como o diabo. Comi-a no banheiro, ela de costas, arrebitando seu bumbum maravilhoso, totalmente chapada de pó e vodka. Dei uma e iniciei outra, mas alguém começou a esmurrar a porta e interrompemos nosso idílio, às gargalhadas. Charlie tinha apenas vinte anos mas acumulara uma experiência incrível de viagens, drogas e rock and roll. Convidei-a para viajar comigo à fortaleza, de onde eu planejava partir num cruzeiro para portugal. Eu achava que era mais seguro. Fiquei gamado no jeitinho dela gemer quando gozava.
De repente, sentia um cansaço enorme daquela vida de traficante solitário e propus à Charlie ser minha parceira. Viajaríamos junto e ela me ajudaria a vender a droga nos bares de Barcelona. Ela venderia para os homens, eu para as mulheres. Ela ficou eufórica. Encarou como uma grande aventura. Depois de uns dias de farra em fortaleza, numa suíte cinco estrelas da praia de iracema, a gente comprou as passagens para o cruzeiro, que faria uma escala rápida numa praia da ilha de marajó, faria uma parada de três dias na república dominicana e depois seguiria direito até lisboa, onde nós saltaríamos, sem prosseguir a viagem até a grécia com os outros passageiros. A vantagem dessa viagem é que o controle da alfãndega, segundo a agência, aconteceria somente na grécia. De Lisboa a gente pegaria um trem para Barcelona, onde eu conhecia muita gente e venderia o produto com facilidade.
Durante a viagem de navio, não usamos pó. Eu precisava exercitar a auto-disciplina. O que fazíamos não era brincadeira. Ela aceitou na boa nos primeiros dias, mas depois começou a pegar pó escondido. Tivemos nossa primeira briga séria, e foi extremamente desagradável e imprudente, pois no calor da discussão berramos coisas comprometedoras. As paredes dos quartos do navio eram finas e, depois disso, fiquei paranóico de que outros passageiros sabiam o que estávamos fazendo.
As paradas na ilha de marajó e república dominicana foram interessantes, mas eu não aproveitei muito. Toda aquela tensão e farras haviam me deixado com um enorme déficit de sono. Tomei um remédio e dormi como urso por vários dias, acordando apenas por algumas horas para comer e contemplar rapidamente a vista da costa ou do oceano.
Enfim chegamos à Lisboa. Não estava programado nenhuma saída do navio, mas eu conversei com o capitão, expliquei que precisava muito saltar, paguei uma multa e desembarcamos. Dormimos num hotel próximo ao cais e no dia seguinte pegamos um trem para barcelona.
Pouco antes do trem cruzar a fronteira de portugal com espanha, uns guardas bateram na porta de nossa cabine e pediram nossos passaportes. Eles pediram licença e se afastaram, levando os documentos. Charlie, que até então vinha lidando muito bem com o perigo, estava muito nervosa. Não conseguia falar e seus olhos transmtiam um terror profundo. Provavelmente a droga lhe provocara uma reação psicótica qualquer. Balanceia-a vigorosamente, olhando-a nos olhos e ordenei que se dominasse.
Os policiais retornaram, e tinham uma expressão diferente. Vinham estranhamente decididos. Pediram que nós abríssemos nossas malas. Um deles observava Charlie com atenção clínica. Perguntou a ela se estava bem. Ela não conseguia responder. O policial trocou olhares com os outros e tirou uma seringa do bolso. Charlie deu um grito. Eu também reagi, mas dois seguraram meus braços. Eles tiraram uma amostra do sangue de Charlie, guardaram a seringa, soltaram meus braços e saíram da cabine. Não haviam encontrado nada em nossas malas. A droga estava muito bem escondida. Mas o que fariam com a amostra do sangue de Charlie?
Não conseguíamos dormir. Fomos até o vagão-restaurante e pedimos drinkes.