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Capitalismo

SOBREVIVÊNCIA. Essa é a palavra mais importante para o morador da Baixada. É preciso exercitar MUITO a criatividade para simplesmente permanecer VIVO. É preciso, sobretudo, ser cauteloso, muito cauteloso, para não fazer parte dos números sombrios que dão fama à região: mais de quarenta homicídios por mês. Viver, na Baixada, é uma ARTE.

Entretanto, como toda arte, há momentos em que o artista está sem inspiração, ou simplesmente cansado, e seu pincel borra a tela em que há tempos trabalhava. E todo o trabalho vai por água abaixo. Uma bala perdida, uma confusão com a polícia, uma briga com quem não deve, ou o rapa que passa, recolhendo tudo...

Foi o caso de José Santos dos Reis, morador de Nova Iguaçu, que trabalhava de camelô no Centro do Rio. Vendia cds e dvds piratas de todos os tipos. Seu ponto ficava junto à Estação Carioca do metrõ, ao lado de um vendedor de livros usados. Passava o dia apregoando seus produtos:

- Windows XP, Page Maker, Microsoft Office, apenas quinze reais.
- Matrix, Senhor dos Anéis, Cidade de Deus, dez reais cada.

Quem lhe arrumou esse trampo foi o vizinho, Chico Nerd, que montara um escritório em sua própria casa. Copiava cerca de duzentos cds por dia e os entregava para os desempregados do bairro revenderem por toda parte. Uns faziam ponto no centro comercial de Nova Iguaçu e de outras cidades da Baixada, mas Reis, que era esperto, ia vender no Rio, onde conseguia preços melhores e muito mais compradores. Demorava um pouco pra chegar, mas era compensador. O único problema era mesmo o rapa, ou a guarda municipal, que atuava com muita brutalidade, e recolhia o produto apreendido. Em ano e meio de trabalho, Reis sempre lograra escapar. Os vendedores haviam organizado uma espécie de rede de informações em tempo real, que lançava um alerta a cada vez que o rapa aparecia.

Um dia, porém, Reis foi pego desprevenido. Uma forte gripe, contraída no dia anterior, não o havia deixado dormir à noite. Estava cansado, distraído. Fechava os olhos involuntariamente, dormindo em pé.

Fechou os olhos e sonhou que estava na casa de sua mãe, também em Nova Iguaçu. A casa da mãe era mais espaçosa, com dois quartos, cozinha, sala e um quintal grande nos fundos. Estava sempre arrumada e limpinha, diferentemente da sua, permanentemente bagunçada, sobretudo depois que sua mulher o abandonara.

No sonho, ele espreguiçava-se no sofá, diante da televisão, como costumava fazer quando adolescente. Sua mãe trabalhava como empregada doméstica no Rio e só vinha nos finais de semana. Sozinho em casa, tinha liberdade total para trazer os amigos, ver televisão, jogar baralho, namorar.

O silêncio a seu redor o fez despertar. Os vendedores haviam sumido. Estava solitário com sua banca móvel de cds na calçada que fica entre a Rio Branco e a estação do metrô. Sentiu um calafrio e olhou pra trás. Uma tropa de uns cinquenta guardas municipais marchava a toda velocidade na sua direção. Fechou a banca, pegou a mochila e preparou-se para correr na direção da rua da Assembléia. Mas um outro grupo de guardas fechava aquela saída.

Estava cercado. Lembrou-se vagamente de cenas de filme em que o personagem sempre consegue escapar dos perseguidores. Infelizmente, não estava num filme. "E se fizerem um filme sobre mim, aposto que vou me foder do mesmo jeito. Filme brasileiro sempre fode o herói", pensou. Esperou, resignado, a guarda chegar.

Sentiu um cansaço profundo e fechou novamente os olhos. O cassetete golpeou-lhe no lado da cabeça, lançando-o ao chão, desacordado.

*
Acordou minutos depois, com ajuda de colegas que voltaram ao mesmo ponto após a guarda ir embora. Sua cabeça repousava numa poça de sangue. A cacetada abrira uma ferida profunda na têmpora esquerda. Os novos cassetetes da guarda tinham uma saliência de metal extremamente cortante. Embora os recrutas fossem orientados para não bater com demasiada força, dificilmente eles seguiam as instruções. Ainda mais depois que um camelô, revoltado com a perseguição das autoridades, deu um jeito de despejar uma garrafa inteira de álcool num guarda e riscar um fósforo.

Reis conseguiu levantar-se e dirigiu-se, cambaleante, até o Souza Aguiar, no Campo de Santana, para fazer um curativo na cabeça.

Enquanto esperava na fila, repassou mentalmente os seus últimos trabalhos. Antes de tentar a sorte como camelô, havia trabalhado dois meses numa firma especializada em mudanças. Ganhava dois salários mínimos, o que não era de todo mal. Mas o serviço era puxado demais. Um dia simplesmente não conseguiu acordar a tempo de chegar às seis horas no escritório da empresa, no Méier e fora demitido por telefone.

Antes disso, havia sido ajudante de pedreiro, pintor de paredes e vendedor de amendoim.
Sentado na fila da emergência, com fortes dores e sentindo-se extremamente cansado, um pensamento ruim surgiu naturalmente, como um bálsamo oferecido pelo diabo.

Reis tinha vinte e cinco anos, terminara o segundo grau e era um rapaz bastante inteligente e honesto. O pensamento que teve no Souza Aguiar foi motivado, em parte, pela situação degradante em que se encontrava. Sujo de sangue, faminto, triste e indignado com a agressão gratuita do guarda, seu estado de espírito estava suficientemente vulnerável para deixar as portas abertas ao mal. O mal, no caso, era um plano que havia conversado, meio por brincadeira, com um amigo do bairro, no final de semana anterior, quando jogava sinuca num botequim próximo da sua casa.
Depois de três horas de espera, foi atendido por uma enfermeira jovem, muito bonita, mas que estava com péssimo humor. Enquanto fazia o curativo nele, conversava com uma colega sobre política. Protestava em altos brados contra as autoridades responsáveis pela caótica situação dos hospitais da cidade. Reis, que possuía lá seu truques de sedução, fez ela mudar de assunto, e conseguiu trocar sua expressão severa, fechada, por um lindo sorriso, e saiu do hospital com seu telefone e endereço.

Ela chamava-se Ana Maria. Era uma mulata esbelta, inteligente, com vinte e dois anos e, por uma feliz coincidência, também morava na Baixada, em São João do Meriti.

Veja só, pensou Reis, há males que vem para o bem. Todo fodido, a cabeça arrebentada, estômago e bolso vazios, tivera uma idéia audaciosa que poderia melhorar sua vida e conhecera uma mulher maravilhosa pela qual (talvez por estar há meses sem fazer amor) já estava perdidamente apaixonado.

*

Reis teve que pedir dinheiro emprestado a um colega para voltar pra casa, pois não tinha vendido um cd naquele dia e a guarda havia apreendido todo seu material. Chegando em Nova Iguaçu, duas horas depois, devorou o cacho de bananas que estava sobre a mesa da sala. Era a única coisa comestível que havia por ali . Quebrou o porquinho onde guardava as moedas e teve a grata surpresa de contabilizar quase vinte reais. Foi direto para o botequim do Porco, há dois quarteirões de sua residência, onde esperava encontrar Wellington, seu futuro cúmplice.
Seu amigo não estava lá, mas Reis mandou um moleque chamá-lo em sua casa. Pediu uma cerveja e pastéis, e ficou a observar o movimento da rua. Lembrou-se de alguma coisa, mexeu no bolso e achou o telefone de Ana Maria. Sentiu uma sensação gostosa, uma comichão no estômago, como que uma cosquinha de amor.

Wellington chegou meia hora depois, com cara de quem havia dormido a tarde inteira. Desempregado e sem disposição nenhuma para trabalhos pesados, Wellington vivia às custas da avó num barracão apertado permanentemente ameaçado por uma encosta assassina.

O principal objetivo de vida de Wellington era alugar um barraco melhor para ele e sua avó, com pelo menos um quarto para cada um, um bom banheiro e uma cozinha razoável. E bem longe dos desmoronamentos de terra.

Apesar de seus trinta e dois anos intensamente vividos no meio da malandragem, Wellington tinha uma aparência bem conservada. Parecia ter uns vinte e cinco, idade de Reis, e também era um rapaz bonito, que fazia relativo sucesso entre as moças do bairro.

Reis contou ao amigo o drama da tarde e exibiu, orgulhoso, o telefone da enfermeira gostosa que conhecera no Souza Aguiar. Por fim, falou sobre sua decisão de mudar de vida.

- Ah, finalmente, disse Wellington. Quer dizer então que o bom moço agora vai virar malandro?
- É, mérmão. A barra tá pesada. Tem jeito não. Vamos realizar aquele plano que a gente falou.
- Opa! Tá falando sério?
- Tô decidido a sair dessa vida miserável. Chega de sofrer.
- Falou e disse, my brother. Vamos às estratégias.

O plano de Reis e Wellington era relativamente simples. Comprariam pó e maconha na boca do Peixe, uma boca que vendia no "atacado", ali mesmo em Nova Iguaçu, e viajariam para Búzios, a fim de revender a droga por lá a um preço dez vezes superior.

*

Desembarcaram na rodoviária de Búzios numa quinta-feira chuvosa. Mas a previsão do tempo, que viram na TV, dizia que o final de semana teria sol, muito sol.

- Tomara mesmo que tenha sol. Só falta a cidade ficar vazia e a gente micar com toda essa parada, comentou Reis.
- Esquenta não, camarada. Mesmo se chover, tem sempre gente na cidade, respondeu Wellington.
Nessa primeira noite, não tinham onde dormir nem dinheiro pra pagar pensão. Tinham conseguido apenas, emprestado, o dinheiro da passagem. Caminharam até o centro, apreensivos com o clima, e esperaram a noite chegar.

Deram sorte. A chuva parou e a noite ficou animada. Nada em comparação com o que se esperava para o dia seguinte, sexta-feira, e para sábado, mas mesmo assim havia bastante gente para os dois começarem a se movimentar e a se enturmar. Em pouco tempo, conseguiram a primeira venda para três gringos que bebiam cerveja num bar. Dois papéis de vinte e três trouxinhas de maconha, dez reais cada. Mais tranquilos com o capital adquirido, combinaram de se separarem. Reis iria atrás de uma pensão barata para passarem a noite e Wellington continuaria sondando a área em busca de outros clientes.

Reis encontrou vaga numa casinha de pescador, por vinte reais, incluindo café da manhã, e voltou ao centro para encontrar Wellington. O colega já havia conseguido realizar outra venda, dessa vez para um senhor de seus cinquenta anos, que bebia uísque no Chez Michou, uma creperia famosa localizada na principal rua do centro.

Conforme a noite foi passando, os dois foram vendendo, aqui e ali, e aumentando seu capital. Quando este chegou a duzentos reais, Wellington sugeriu que parassem de circular, para não dar muito na vista, e agissem como turistas comuns. Consumiram um pouco das drogas que traziam e flertaram com garotas.

Às duas da manhã, as ruas estavam quase vazias e os dois resolveram descansar para o dia seguinte, que prometia muito trabalho.

*

Acordaram tarde, com o sol forte querendo invadir o quarto pelas frestas da janela. A mulher do pescador havia deixado, sobre a mesa ao lado da porta, uma bandeja com uma jarra de suco de laranja e dois sanduíches de pão com presunto. Comeram e saíram, com planos de caminhar até a praia de Jeribá.

Reis ainda sentia um pouco de dor pelo ferimento na cabeça e pediu para Wellington que andassem lentamente. Foram observando as pousadas luxuosas, as ruas limpas, bem cuidadas, de paralelepípedos, os jovens bonitos, brancos, alegres, que passavam em automóveis de design arrojado com pranchas de surf amarradas sobre o capô.

Como deve estar Ana Maria?, pensou Reis, enquanto tirava da carteira o papelzinho com o telefone dela. Puxou o celular do bolso, respirou fundo, tomou coragem e ligou. Estava nervoso.
Wellington tinha entrado num botequim para comprar cigarros.

- Alô?
Reis ficou atônito quando ela atendeu no primeiro toque. Por alguns segundos, não soube o que dizer.
- Alô, ela repetiu.
Por fim, ele disse:
- Oi Ana, sou eu.
- Oi!!! Até que enfim me ligou. Pensei que tivesse perdido meu telefone.
- Imagina, guardei aquele papelzinho com mais cuidado que se fosse uma nota de cem reais.
- Tá bom, vou fingir que acredito. Onde você está?
- Estou em Búzios. Vim fazer um trampo aqui.
- Uau, que chique! Posso saber que trampo é esse?
- Depois de te conto, agora tenho que desligar. Amanhã te ligo de novo.
- Ok, beijo grande.
- Falou, tchau.

Wellington tinha voltado e olhava sorrindo pra ele. Escutara a conversa quase toda.

- O que acha que ela vai pensar? Se você contar a verdade?
- É simples. Ela não vai mais querer falar comigo.
- É, pode crer. Mas se você aparecer cheio da grana, ela bem que vai gostar.
- É claro, mas eu tenho que inventar uma boa mentira para justificar esse dinheiro.
- Sabe o que pode ser? Você pode falar que é representante comercial de uma empresa ligada ao setor de turismo. Você viaja para essas cidades pra vender pras pousadas e agências de turismo. Que tal?
- Que produtos?
- Sei lá.
- Tá legal. Depois eu penso nisso. Chegamos.

A praia de Jeribá tinha uns três ou quatro quilômetros de extensão e era margeada por pousadas e hotéis. Àquela hora, dez horas da manhã, havia alguns grupos de turistas estendidos na areia. Os dois tiraram a camisa, pisaram a areia fofa e puseram-se a caminhar pra lá e pra cá. A hora era boa para vender maconha. Pegaram um pouco e apertaram um baseado, que fumaram andando. Quando viam um grupo de jovens, se aproximavam um pouco para que eles sentissem o cheiro. Se ficassem olhando com cara de fome, então Wellington os abordava, e perguntava se queriam fumar também. Os dois passavam a bagana quase no fim para o grupo e Reis dizia:

- Estamos atrasados, temos que sair fora. A gente tem mais. Querem comprar?

Eles tinham trouxinhas de dez reais e também quantidades maiores, de vinte e cinco e cinquenta gramas, que carregavam na mochila. Um grupo comprou cinquenta gramas por cem reais. Outro comprou três trouxinhas de dez.

Às três horas da tarde, já tinham faturado trezentos reais. Sentaram-se a uma mesa na praia e pediram cerveja. O dia prometia gordos lucros para a dupla. Até o momento, não haviam topado com nenhum policial.

Estavam almoçando um peixe frito quando uma jovem loura, com sotaque estrangeiro, se aproximou e perguntou se podia sentar-se com eles por um instante. Estava de biquini e tinha um corpo muito bonito, com seios volumosos. Apresentou-se como Mika, disse que era russa e estava com um grupo de mais cinco mulheres. Ela era a única que sabia falar português, porque seu pai era brasileiro. Eram todas modelos e vieram ao Brasil para participarem de um festival de moda. O evento tinha acabado e decidiram ficar uns dias para conhecerem melhor o país.

Explicou que estava observando os dois há algumas horas e percebeu que eles tinham o que interessava a elas. Foi direto ao assunto. Perguntou se eles não queriam ir à casa delas à noite para fazerem uma festinha antes de saírem para a cidade. Elas curtiam tudo, pó, maconha, álcool.
Reis e Wellington se entreolharam, um pouco desconfiados. Estava bom demais pra ser verdade. Perguntaram se elas estavam dispostas a pagar pela droga consumida. Claro que sim, respondeu Mika. Então, tá combinado, eles disseram, às oito horas da noite a gente passa lá. Ela deixou o endereço da pousada onde estavam hospedadas e saiu, sua bunda perfeita hipnotizando os dois amigos.

*
Os dois amigos voltaram à casa onde estavam hospedados, tomaram banho, arrumaram-se e um pouco depois das oito viam-se diante da sofisticada pousada Sereias. A recepcionista era uma gordinha de rosto bonito, olhos verdes, que os recebeu com um sorriso triunfal.

- Olá, viemos ver a Mika.
- Tudo bem, ela já me avisou. Elas estão no bar da piscina. Siga as setas.

A pousada Sereias era inteiramente arborizada, de modo que os dois sentiram-se num bosque. Estavam ansiosos e pegaram a entrada errada, deram umas voltas pela pousada, observando os bangalôs enormes e individualizados. Escutaram as vozes e os risos e chegaram à piscina. Dois delas estavam na água, nadando, e as outras três estavam sentadas à mesa, bebendo água de côco. Fizeram uma enorme festa quando os viram.

- Viva! Chegaram nossos heróis.

Eles estavam um pouco encabulados diante de tantas mulheres bonitas. Reis bem que tentava evitar, mas não conseguia deixar de pensar em todo tipo de orgia possível. Puxaram duas cadeiras e sentaram-se à mesa. Mika ainda vestia biquini e perguntou se eles queriam beber alguma coisa. Tudo por conta da casa.

- A gente agora vai se arrumar. Fiquem aqui, bebendo à vontade. Daqui a pouco a gente vem chamar vocês. Estamos nos bangalôs Fernando de Noronha e Ilha da Fantasia.

As duas que estavamo na piscina saíram. Uma delas estava de top less e Reis não conseguiu esconder o agradável susto que levou com isso. Teve uma ereção instantânea. As duas sorriam pra eles, pegaram roupões pendurados nos descansos à beira da piscina e seguiram as outras na direção dos bangalôs.

Quando ficaram sozinhos, os dois não sabiam o que conversar. Olhavam um para o outro e riam sem saber porquê. Reis quebrou o silêncio pedindo duas latinhas de cerveja ao garçom.

- Ê ê, Reis.
- Ê ê, Washington.

Com expressão amalucada, os olhos perdidos no azul da piscina, Washington continua:

- Dessa vez a gente se deu bem.
- Escuta. Vamos cuidar, antes de tudo, de vender a parada e embolsar o dinheiro. Não vamos deixar essas minas aí nos emgambelarem.
- É claro, meu!
- Depois, se rolar, a gente faz a festa!
- Uú uú uú. Yeah!
- Porra, Washington, vou te tocar a real. Tô há dois meses na maior seca.
- E eu? Há uns seis meses que não vejo uma xoxotinha decente.
- Ué, tu não tava pegando a Adriana?
- Falei DECENTE, meu. Aquilo é um tribufu. Não vale. Há uns seis meses que só pego monstro.
- Tá bom. Tá bom. Vem cá. Será que vai rolar uma suruba.
- Upa lelê! Deus é pai!
- Não fala em Deus, seu prego. Traz má sorte. Cê acha que Deus gosta de sacanagem?
- Eu acho que gosta. Se for uma sacanagem saudável, acho que Deus se amarra.
- Porra! Sabe que eu lembrei agora?
- Do quê?
- Daquela sacanagem que fizemos com as duas primas, filhas do seu Zé.
- Caralho! Você lembra daquilo?
- Aquela noite foi inesquecível.

Os dois lembraram os detalhes picantes daquela noite e falaram ainda de outras aventuras que viveram juntos. Uma das moças veio chamá-los. Falava inglês e gesticulava. Os dois a seguiram até o bangalô. A porta se abriu e os três entraram. Mika veio falar com eles.

- O que vocês trouxeram aí pra gente?
- Depende. Quantos vocês tem para gastar?

Mka puxou um bolo de notas do bolso de trás e estendeu a eles.

- Isso é o bastante?

Ela assumiu uma expressão séria, quase triste, que combinava muito bem com sua maquiagem pesada, dark.

- Quanto tem aqui?
- Duzentos dólares.
- Em real dá quanto?

Mika olhou curiosa para Reis, como que espantada por ele não saber a cotação do dólar.

- Uns quinhentos reais.
- È muito dinheiro, dá pra vocês curtirem a noite inteira.
Ela dá um pulinho de alegria, seguido de um gritinho agudo.
- Dá mesmo?
- Tranquilo. Vocês vão se divertir à pampa.

Reis pronunciou essa frase em voz mais alta, esquecendo que as outras não entendiam português. Mas a maneira como ele falou, o gesto magnânimo e o sorriso franco, transmitiram uma alegre confiança às meninas que prestavam, ansiosamente, atenção à conversa.

Uma das meninas salta pra fora da cama e vem falar com Mika, que responde no idioma delas; volta-se pra eles e diz:

- E aí, podemos começar?
Reis olhava fascinado para a moça que viera falar com Mika. Usava um shortinho apertado e uma camiseta cortada acima do umbigo. Era a mesma que saíra da piscina de top less.
Mika surpreendeu o olhar de Reis, mas aparentemente não se importou. Falou sorrindo:
- Vai lá no banheiro e estica umas carreiras pra gente.
- É pra já.
Os dois foram em direção ao banheiro, nos fundos do quarto. Mika segurou o braço de Washington e falou:
- Fica aqui. Deixa ele ir lá sozinho.

Quando entrou no banheiro, Reis teve outra grata surpresa. Uma das moças saía do chuveiro totalmente nua. Não pareceu importar-se com a presença de Reis. Pelo contrário, sorriu-lhe lubricamente, cortando a respiração dele, que sentiu um calor enorme crescer dentro de si. Ela colocou um roupão branco, mas não o amarrou e colocou-se ao lado de Reis, diante do espelho. Ele não conseguia tirar os olhos dos enormes peitos da moça. Teve vontade de perguntar se eram de silicone, mas lembrou-se que ela não falava português. Quase esticou o braço para tocar mas conteve-se e desviou o olhar. Pegou um papel no bolso da pochete, abriu-o e despejou o conteúdo no mármore verde escuro da pia.

Na sala, Washington conversava amenidades com Mika, deleitando-se com a beleza voluptuosa das modelos.

- De que países vocês são? - perguntou Washington.
- Duas são da Noruega, uma da Alemanha, outra da Rússia. Eu sou dinamarquesa. Essa aqui - indicou a moça a seu lado - é Chris. Ela é da Noruega.

Chris sorriu timidamente e balbuciou uma frase lá na língua dela. Tinha olhos azuis, um metro e oitenta e um corpo maravilhoso. Apontou para as duas que estavam deitadas na cama, assistindo a conversa:

- Viki - disse, apontando para a morena de calça preta - "und" Monika - indicando a outra, de cabelos curtos e magérrima.

No banheiro, Reis tentava disfarçar a ereção. Mas a modelo a seu lado percebeu e se aproximou. Pegou a mão direita dele e trouxe-a até seu peito. Reis estava quase enlouquecendo de tanto tesão. Ela deixou-o massageiar seus peitos, enquanto tocava em seu clitóris com a mão esquerda. Depois ela se abaixou, abriu o ziper da calça dele e aplicou o melhor boquete que Reis experimentara em toda a vida.

Washington não podia ver o que ocorria no banheiro, mas se visse não se espantaria, porque também já estava bem ocupado. Mika ligara o som e dançava junto com as outras. Era uma dança absurdamente sensual, que o mantinha numa espécie de transe. Uma delas tirou a camisa. As outras seguiram-na e ficaram todas de top less. Washington não acreditava no que via. Aí as quatro fizeram uma espécie de trenzinho e foram até ele. Ele ficou na frente do trenzinho, sentindo os seios volumosos de Mika em suas costas.

A campainha tocou e todos pararam de fazer o que estavam fazendo. Mika desligou o som. As moças vestiram a camisa. No banheiro, a moça interrompeu o boquete, amarrou o roupão e olhou assustada na direção da sala. Mika fez um gesto e ela fechou a porta do banheiro e trancou.
Mika foi abrir a porta. Era o serviço de quarto, trazendo duas garrafas de champagne, uma garrafa de uísque, gelo e uma travessa com vários tipos de salgadinhos.