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A filha do bicheiro



Bem que eu tentava aparentar tristeza, mas os garçons não parávam de me servir uísque importado e a garota não paráva de me sorrir. Há tempos Danny insinuava-se pra mim. Eu fingia que não reparava. Seu Virgílio de Andrade morrera de crise renal, quem diria. Um sujeito que escapara de mais de vinte tentativas de assassinato, terminar assim, um cadáver de terno e gravata no meio da sala, enquanto os presentes enchiam a cara e flertavam com a viúva e suas filhas. Ela se aproximou, aos poucos, parando para conversar com as pessoas, até que se postou a meu lado, sorrisinho safado.

"Oi! Você vai na festa hoje?"

Olhei para os lados, algumas pessoas nos observavam com malícia. Senti vontade de fumar um cigarro, mas tinha parado de fumar há meses.

"Pô Danny, festa? Seu pai morreu e você dá uma festa?"

"Ah, deixa de ser careta! Quem inventou essas convenções? Morreu morreu! Quem fica tem de comemorar o fato de estar vivo."

Ela olhou-me daquele jeito que me deixava louco, revirando os olhos. Mexeu na blusa, aumentando o decote. Continuou:

"Estou esperando você lá! Vou ficar muuuuito triste se você não for."

Saiu, recebendo os cumprimentos de conhecidos com um ar visivelmente enfastiado. Antes de atravessar a porta, voltou-se e acenou-me enfaticamente, fazendo os olhares se voltarem para mim, curiosos, invejosos, repressores.

Aceitei mais uísque e senti vontade de chorar. De alegria. Aquela garota era meu sonho de consumo. Peitos grandes, coxas grossas, bunda perfeita, cinturinha, cabelos longos pintados de louro. Quando eu fazia plantão ela sempre aparecia, exibindo-se. Mergulhava na piscina, estendia-se no quintal, toda gostosa, procurando me excitar. Uma vez ela se deitou na beira da piscina, de biquini, e começou a se masturbar, suavemente. Eu podia ver Seu Virgílio lá dentro, lendo jornal, e não sabia o que fazer para esconder minha ereção. Ela reparou e continuou, olhando-me nos olhos. Gozou com um sorriso que ficou marcado na minha memória por meses, torturando-me.

Trabalhar para um bicheiro nunca havia me passado pela cabeça antes de ser expulso da polícia civil, acusado de receber propina. Ah, que piada. Todo mundo fazia isso, mas eu fui escolhido para ser o bode expiatório da tal "nova gestão".

Anoitecia. Despedi-me de quem eu conhecia e saí do velório. Consumia-me pensando se valia a pena investir na garota. O filho do bicheiro, Castorzinho, tinha apenas vinte e dois anos, não estava preparado para assumir o lugar do pai, mas não era cego. Não lhe agradaria ver a irmã saindo com um dos seguranças.

Gastei algumas horas num botequim próximo, bebendo cerveja e tentando não pensar em nada. Faria o que me viesse na telha, na hora certa.

Às dez e meia, estava totalmente bêbado. Chamei um táxi e disse o endereço.

Ela estava linda, com um vestido muito curto colado ao corpo. Abraçou-me longamente quando cheguei. Disse-lhe que estava bêbado. Ela pegou-me na mão, fez-me sentar num sofá, trouxe água com gás e aconchegou-se em meu colo, fazendo-me carícias no rosto.

Não tinha muita gente na festa, apenas alguns amigos mais chegados. Senti-me melhor após algum tempo. Ela chamou uma de suas amigas, uma morena magrinha, de short. As duas sentaram no meu colo e beijaram-se. A morena abaixou a parte de cima do vestido de Danny, fazendo os peitões saltarem. A morena esfregava-se na minha perna e com uma das mãos apertou meu pau por cima da calça. A morena abriu meu flechequer e tirou meu pau pra fora, enorme, duro, latejando. Seus olhos brilharam e atirou-se de boca no mastro, chupando sofregamente. Danny acariciava os próprios seios com uma mão e se masturbava com a outra. Não usava calcinha. Sorrindo, dizia-me algo que demorei a compreender.

"Fui eu."
"O quê?"
"Fui eu."
"Você o quê?"
"Eu matei meu pai."
"O quê?"
"Troquei os remédios dele."
"Ãh?"

Ela não paráva de se masturbar enquanto falava. Fazia caretas como se fosse gozar. A outra continuava me chupando decididamente. Eu estava aprisionado. Enfim, entendi o que ela dizia.

“Danny, você tá bem?”
"Queria ficar com você."
"Você ficou louca?"
"Não queria ninguém entre nós."
Gozei na boca da morena. Senti Danny estremecer num orgasmo prolongado, seu olhar jorrando carinho e paixão. Pensei algo assim: em todo amor há sempre alguma coisa de assassino.